Enquadramento
A doença renal crónica é um problema de saúde pública particularmente relevante em Portugal sendo este um dos países da Europa com maior incidência de terapêuticas de substituição renal nas suas diversas formas – diálise peritoneal, hemodiálise e transplante.
Dentro das competências do Especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular, o domínio da imagiologia, cirurgia convencional e intervenção endovascular são determinantes no sucesso da gestão do acesso vascular para hemodiálise e no transplante renal, dentro de uma abordagem multidisciplinar com Nefrologistas e Enfermeiros.
O Núcleo de Acessos Vasculares e Transplantação pretende dinamizar a formação nesta área fomentando a partilha de experiência clínica e a divulgação científica.
Coordenador Duarte Rego
Colaboradores
Ana Raquel Afonso | Gabriela Teixeira
Plano de ação
A Reunião do Núcleo de Acessos Vasculares e Transplantação da SPACV, está prevista para o 1º semestre de 2022 em data a informar oportunamente.
- Varizes
- Trombose Venosa
- Sindrome de Congestão Pélvica
- Doença Arterial Periférica
- Pé Diabético
- Doença Carotídea
- Aneurisma da Aorta Abdominal
- Aneurisma da Aorta Torácica
- Dissecação da Aorta
- Aneurismas Periféricos
- Traumatismos Vasculares
- Acessos Vasculares para hemodiálise
- Contribuições
- Índice Tornozelo-Braço
- Eco-Doppler Colorido
- Tomografia Computorizada (TC)
- Ressonância Magnética (RM)
- Angiografia
O coração é a “bomba” que mantém o sistema em funcionamento.
Figura 01 - Corpo humano feminino a cinza, com os componentes do sistema vascular a cores
Figura 02 - Corpo humano masculino a cinza, com os componentes do sistema vascular a cores
Várias doenças vasculares podem por em risco a vida ou influenciar negativamente o bem-estar pessoal e social...
Um Angiologista e Cirurgião Vascular é um médico especializado na prevenção, diagnóstico, tratamento e seguimento de doenças que afetam as artérias, as veias ou os vasos linfáticos. Várias doenças vasculares podem por em risco a vida ou influenciar negativamente o bem-estar pessoal e social, provocar dor crónica ou debilitar fisicamente. O Angiologista e Cirurgião Vascular está dedicado a proporcionar um serviço altamente qualificado para evitar ou minimizar as consequências provocadas por doenças dos vasos.
A sua atividade passa pela realização de consultas, onde poderá esclarecer as suas queixas, obter informação mais detalhada sobre a sua doença, onde pode ser discutido e prescrito um plano de tratamento, e agendado um adequado seguimento regular quando justificado. Passa também pela realização de exames de diagnóstico vascular, dos quais se destaca o eco-Doppler, uma ecografia especial que permite a visualização da circulação em tempo real e permite uma excelente avaliação do sistema vascular. Em alguns casos, o Angiologista e Cirurgião Vascular poderá propor uma intervenção.
Estes especialistas estão treinados para realizar operações simples e complexas em artérias e veias em todos os locais do corpo exceto no coração e no cérebro, e também para realizar procedimentos baseados em cateterismo, podendo oferecer a solução mais adequada para cada situação. Estão igualmente qualificados para resolver possíveis complicações vasculares da forma mais indicada. Um Angiologista e Cirurgião Vascular pode ser muito importante para uma vida longa e saudável. Se suspeita de doenças dos vasos sanguíneos ou linfáticos, consulte o seu médico de medicina geral e familiar para referenciação ou marque uma consulta de Angiologia e Cirurgia Vascular.
Ainda que não se saiba ao certo a sua causa, existe uma tendência hereditária para a doença venosa crónica, o que significa que pessoas com familiares que tenham história de varizes têm maior risco para o seu aparecimento. Existem ainda outros fatores que aumentam o risco, nomeadamente o excesso de peso, as profissões que obrigam a longos períodos em pé ou sentado ou de exposição ao calor, a gravidez, a toma de contracetivos orais (pilula), etc.
As queixas frequentemente associadas são a dor tipo moinha ou sensação de peso e cansaço, localizados ao terço inferior das pernas, e o inchaço. Sintomas estes que agravam ao longo do dia e aliviam com a elevação dos membros inferiores. Pode ainda ocorrer comichão, caimbras ou sensação de formigueiro, sendo estes sintomas mais inespecíficos de doença venosa.
Nos doentes com varizes há ainda o risco de pequenos traumatismos precipitarem a rotura e sangramento de uma variz, com perdas de sangue que podem ser significativas. Estes episódios têm o nome de varicorragias.
Os doentes com varizes têm ainda uma maior probabilidade de desenvolver coágulos dentro das suas veias doentes, situação em que a variz fica inflamada, dolorosa e quente, com o nome de varicoflebite, carecendo de tratamento urgente pelo risco de extensão do coágulo a veia profunda ou até ao pulmão, situação com risco para a vida do doente.
O diagnóstico de doença venosa crónica é feito por um Angiologista e Cirurgião Vascular o qual após recolher as queixas do doente, realizar um exame físico cuidadoso e executar um estudo por eco-Doppler, vai identificar os segmentos venosos afetados e propor o tratamento adequado.
Os tratamentos propostos vão depender das alterações encontradas. Estes poderão incluir medidas mais conservadoras, como toma de medicação, para melhorar a circulação e os sintomas, e o uso de meias elásticas compressivas; ou tratamentos invasivos, como a escleroterapia (injeção de uma substância no interior da veia para a “secar”) ou tratamentos cirúrgicos, utilizando diversas técnicas com ou sem remoção das veias afetadas. São utilizadas preferencialmente técnicas minimamente invasivas, executadas na maior parte das vezes em regime ambulatório.
Ainda que os tratamentos atuais sejam eficientes, é importante que o doente perceba que este é um problema crónico, havendo sempre o risco de surgimento de novas varizes no futuro. É por isso necessário um acompanhamento contínuo e a adoção de medidas de prevenção, entre as quais o uso de meias elásticas compressivas, a prática de exercício físico regular, a manutenção de um peso saudável, a evicção da exposição prolongada ao sol e ao calor, assim como a evicção de longos períodos na posição de pé ou sentado.
Deve consultar um médico especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular se tiver algum dos sintomas atrás referidos, por forma a poder iniciar o tratamento adequado atempadamente.
A trombose venosa consiste na obstrução de uma veia, condicionada pela formação de um coágulo de sangue.
Outras causas ou fatores desencadeantes frequentes são: imobilidade prolongada (viagens), fracturas com aplicação de gesso, após cirurgia ou acidente. Por vezes, não se consegue identificar uma causa.
No caso da trombose venosa que afecta as veias profundas muitas vezes aparece um inchaço, de aparecimento rápido (1 a 2 dias), de uma das pernas (o envolvimento das 2 pernas é raro), podendo ter dor associada. Nas tromboses que envolvem as veias superficiais existe um “cordão” doloroso e vermelho ao longo da veia em causa.
No diagnóstico da trombose venosa profunda é realizado um eco-Doppler, que permite identificar o trombo, a sua localização e extensão. Também se realizam habitualmente análises ao sangue.
As tromboses que afectam as veias superficiais têm muitas vezes um curso benigno. Já as que envolvem as veias profundas podem causar complicações sérias iniciais (quando o trombo se desprende e provoca uma embolia pulmonar) ou tardias (inchaço crónico da perna, dor, alterações da cor da pele e mesmo úlcera/ ferida na perna. O tratamento atempado e correto de uma trombose venosa profunda favorece uma evolução favorável e sem sequelas.
Na grande maioria dos casos o tratamento envolve a toma de medicamentos anticoagulantes (diluem o sangue), que podem ser administrados por injeção subcutânea ou comprimidos – este tratamento limita a progressão da doença e reduz o risco de complicações.
Em alguns (poucos) casos, na fase aguda, pode estar indicada a realização de uma intervenção endovascular (“cateterismo”) ou, mais raramente, uma operação para desobstruir a veia.
Figura 01 - Ilustração de sintomas de trombose venosa
O diagnóstico e tratamento inicial não necessita forçosamente de envolver um cirurgião vascular, embora muitas vezes isso aconteça. No entanto, a optimização da terapia e a decisão quanto à possibilidade de uma intervenção inicial (para além dos anticoagulantes) só pode ser efetuada por um especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular. Para além de confirmar o diagnóstico, o cirurgião vascular pode-lhe oferecer um plano terapêutico e seguimento adequado, com o intuito de minimizar as consequências tardias e reduzir o risco de um novo episódio.
A síndrome de congestão pélvica é uma patologia que surge em mulheres com idades compreendidas entre os 20 e os 50 anos.
Esta entidade resulta do mau funcionamento (insuficiência) e consequente dilatação das veias da zona pélvica. A causa mais frequente dessa congestão resulta da ação de hormonas femininas, sendo a multiparidade um reconhecido fator de risco. Durante a gravidez, os picos de libertação hormonal, da progesterona e estrogénios, e a dilatação das veias, condicionada pelo efeito compressivo do útero gravídico nas veias pélvicas, são importantes fatores precipitantes da doença.
Existem causas menos comuns resultantes da compressão de veias intra abdominais, nomeadamente, a compressão da veia ilíaca comum esquerda (Síndrome de Cockett) ou da veia renal esquerdas (Síndrome de Nutcracker).
Perante uma suspeita de síndrome de Congestão Pélvica deve consultar o seu especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular.
O eco-Doppler é utilizado em muitos casos como exame de primeira linha. A angio-TC e a angio-ressonância magnética são, contudo, fundamentais na obtenção de detalhes anatómicos mais precisos, planeamento de um eventual tratamento, assim como na exclusão de outras causas de dor pélvica.
O tratamento de eleição, quando a terapêutica farmacológica não resulta, consiste na embolização (oclusão) das veias insuficientes e das varizes pélvicas. É um tratamento endovascular (por cateterismo) minimamente invasivo, podendo ser realizado sob anestesia local, com ou sem sedação associada. Os riscos da intervenção são mínimos e a taxa de sucesso varia entre 80 e 90%.
A doença arterial periférica caracteriza-se por uma obstrução nas artérias (aterosclerose)...
Os sintomas e sinais mais frequentes são o cansaço/dor nas pernas com o andar obrigando a pessoa a parar alguns minutos (claudicação). As queixas são mais precoces em terrenos inclinados. Numa fase mais avançada, o doente pode apresentar dor permanente nos pés durante a noite, que alivia na posição sentada, e até mesmo feridas. O arrefecimento dos pés e a diminuição dos pelos nas pernas são sinais acompanhantes.
O diagnóstico é confirmado através da avaliação clínica minuciosa e da realização de alguns exames auxiliares das regiões afetadas, como o Eco-Doppler. Em situações mais específicas, o seu médico pode requisitar um angio-TC ou propor-lhe uma arteriografia (cateterismo).
Perante a suspeita de doença arterial periférica é fundamental uma avaliação por um médico especialista de Angiologia e Cirurgia Vascular que lhe poderá confirmar o diagnóstico e propor-lhe o tratamento adequado para a sua situação.
A doença do pé diabético representa um crescente desafio de saúde pública global e um grande encargo para os sistemas de saúde...
A localização anatómica remota do pé, assim como, o papel que tem durante a sustentação do peso e deambulação criam um ambiente que o torna suscetível à ulceração no doente diabético. Contribuem para a cronicidade da úlcera, a neuropatia periférica, a doença arterial periférica e a deformidade biomecânica que estes doentes normalmente apresentam. À medida que a neuropatia periférica progride, o pé torna-se insensível e o doente não responde à agressão tecidual aguda ou repetitiva. Nesse ambiente, a biomecânica alterada durante o ortostatismo e a deambulação, acentuam as forças deletérias que contribuem para o desenvolvimento e cronicidade da úlcera. Finalmente, a isquemia e a infeção são eventos cruciais que podem levar à amputação. É no âmbito da isquemia que o cirurgião vascular tem o papel mais preponderante.
O diagnóstico de pé diabético isquémico faz-se pela história clínica e pela avaliação clínica minuciosa do doente. Poderá ser necessário realizar Rx do pé, eco-Doppler arterial dos membros inferiores, angioTC e/ou arteriografia para avaliar a macrocirculação do membro.
Além do desbridamento e da manutenção do leito da ferida húmido e saudável, as úlceras do pé diabético devem também ser tratadas com antibióticos dirigidos por cultura, se infetadas. O alívio da pressão/descarga das zonas da ferida, através de sapatos e/ou palmilhas adaptadas é essencial, e deve ser aconselhado desde cedo no tratamento destes doentes.
O cirurgião vascular tem um papel importante no diagnóstico e tratamento do componente isquémico do pé diabético, sendo por vezes necessária a sua revascularização.
A doença carotídea caracteriza-se por uma obstrução das artérias que levam o sangue ao cérebro.
Esta obstrução arterial desenvolve-se ao longo de anos. Pode, subitamente, formar-se um trombo que provoca um AVC (Acidente Vascular Cerebral – trombose cerebral). Cerca de 33% das tromboses cerebrais estão relacionadas com obstruções nas artérias carótidas. O risco de obstrução aumenta com a idade, com a presença de hipertensão arterial, colesterol elevado, tabagismo ou diabetes. Frequentemente existe associada a obstruções de outras artérias, em particular no coração e nas pernas.
Trata-se de uma doença que muitas vezes é assintomática até uma fase muito avançada. Os sintomas se presentes, estão relacionados com tromboses no cérebro que podem levar a paralisia de um lado do corpo, deixar de falar, deixar de ver. Nas situações mais graves de tromboses extensas a pessoa pode morrer.
O diagnóstico é efetuado através de um exame médico rigoroso e da realização de um eco-Doppler ao nível dos vasos do pescoço. Poderá ainda ser necessário realizar outros exames, como o angio-TAC.
Se tem história conhecida de obstrução nas artérias das pernas ou se tem mais de 65 anos e tem um dos seguintes fatores de risco (obstrução nas artérias do coração, é fumador, tem tensão arterial elevada ou tem colesterol elevado) deve consultar o seu médico especialista de Angiologia e Cirurgia Vascular, que poderá fazer o rastreio da doença e, quando indicado, oferecer-lhe o tratamento médico ou cirúrgico mais adequado para diminuir o risco de sofrer uma trombose cerebral.
O Aneurisma da Aorta é uma doença que se define por uma dilatação permanente da aorta, a maior artéria do organismo humano.
A prevenção da rotura é possível se a doença for identificada precocemente e forem tomadas medidas para travar a sua progressão. A abstinência tabágica e controlo da hipertensão arterial são medidas preventivas relevantes. Em casos de doença mais avançada, com risco de rotura mais elevado, pode ser necessário um tratamento cirúrgico, através da substituição da aorta por uma prótese (cirurgia aberta) ou por implante de uma endoprótese, por cateterismo (cirurgia endovascular).
A fácil identificação da população em risco, o curso clínico insidioso, a simples deteção por ecografia abdominal, a existência de terapêutica não interventiva eficaz na redução de risco e a existência de um tratamento cirúrgico eficaz tornam o rastreio de aneurisma da aorta abdominal uma medida com provável impacto favorável na saúde da população. Este está inclusivamente implementado de forma sistemática noutros países europeus.
Um médico especialista de Angiologia e Cirurgia Vascular pode efetuar o diagnóstico, esclarecer melhor as implicações do aneurisma da aorta e estabelecer um plano de tratamento individualizado.
ONDE SE LOCALIZAM OS ANEURISMAS DA AORTA TORÁCICA?
Os aneurismas da aorta torácica podem envolver todas as zonas da aorta torácica como a porção ascendente, o arco aórtico ou o segmento descendente, até ao diafragma.
O QUE CAUSA OS ANEURISMAS DA AORTA TORÁCICA?
A maioria destes aneurismas é causada por degenerescência da média (frequentemente associada a hipertensão arterial e aterosclerose), doenças do tecido conjuntivo (como por exemplo, a Síndrome de Marfan), ou após dissecção aórtica. Por vezes, são originados por doenças infeciosas ou inflamatórias da aorta ou são consequência de traumatismos.
QUAIS SÃO OS SINTOMAS?
Os aneurismas muito volumosos podem comprimir estruturas vizinhas como a traqueia, os brônquios, o esófago e alguns nervos que se localizam na região.
Assim, os doentes podem apresentar dor ao nível do tórax, tosse, sensação de “falta de ar”, infeções respiratórias de repetição e rouquidão. Os que se localizam no arco aórtico podem ser causa de acidente vascular cerebral, pelo envolvimento das artérias que aí se originam e irrigam as estruturas encefálicas.
A complicação mais grave é a rotura. Se não for tratada de forma emergente, conduz à morte na maior parte das vezes. Por esta razão, os aneurismas da aorta torácica deverão ser diagnosticados e tratados antes do aparecimento de complicações.
COMO SABER SE TENHO UM ANEURISMA DA AORTA TORÁCICA?
Alguns casos podem ser detetados por ecocardiografia que, no entanto, tem limitações em algumas zonas da aorta torácica. Aneurismas grandes podem ser visualizados na Radiografia do Tórax (Rx) que não é, porém, um método rigoroso de avaliação.
A QUE ESPECIALISTA DEVO RECORRER?
Pode recorrer a um Cardiologista que orientará, se necessário, para um médico especialista de Cirurgia Cárdio-Torácica no caso dos aneurismas da aorta ascendente e arco que necessitem de cirurgia aberta, ou para um médico especialista de Angiologia e Cirurgia Vascular no caso dos aneurismas localizados na aorta torácica descendente ou no arco aórtico em doentes com risco elevado para intervenção aberta e em que terá de ser equacionada uma alternativa endovascular.
COMO É O TRATAMENTO?
O tratamento aberto continua a ser recomendado em doentes mais novos e de menor risco cirúrgico e é efectuado com bons resultados em Centros de Cirurgia Cárdio-Tórácica diferenciados.
Desde há duas décadas tem vindo a ser desenvolvido o tratamento endovascular que consiste na colocação de endopróteses por via femoral (mais frequente) e sem necessidade de esternotomia ou circulação extracorporal.
Estas intervenções são geralmente do foro da Cirurgia Vascular e constituem a técnica de eleição na maioria dos casos de aneurismas da aorta torácica descendente.
No arco aórtico, atendendo à origem das artérias que irrigam o encéfalo (troncos supra-aórticos) é necessário realizar intervenções de deslocamento destes vasos por cirurgia aberta no pescoço, seguidas da colocação de endopróteses na aorta.
Recentemente, estão em desenvolvimento técnicas totalmente endovasculares que permitem manter a circulação cerebral sem procedimentos abertos no pescoço.
Todas estas intervenções são efectuadas em Portugal, têm aspectos favoráveis e inconvenientes, não são aplicáveis a todos os casos e associam-se a risco significativo de complicações. Portanto, cada caso deve ser analisado, preferencialmente, em centros diferenciados e com experiência.
O que é?
A dissecção da aorta é uma doença que resulta da rotura da camada mais interna da artéria aorta, chamada íntima, e que leva ao desenvolvimento de um canal que percorre o interior da parede aórtica numa extensão e localização que é variável. É a doença aguda mais comum da aorta e tem uma grande importância porque esta artéria é a maior e mais importante do nosso organismo.
Que tipos de dissecção aórtica existem?
A Dissecção tipo A que envolve a aorta ascendente;
A Dissecção tipo B que envolve a aorta distalmente à origem da artéria subclávia esquerda;
Esta classificação é importante, porque o seu tratamento e prognóstico é diferente. O seu tratamento é também realizado por especialidades cirúrgicas diferentes.
Quais são os sintomas da dissecção aórtica?
Há um pequeno grupo de doentes mais jovens com doenças congénitas do tecido conjuntivo, em que é mais comum a ocorrência desta doença.
Como se diagnostica?
A confirmação diagnóstica é efectuada por um exame imagiológico, normalmente uma angio-TAC, um ecocardiograma ou uma ressonância magnética nuclear. É muito importante o seu diagnóstico precoce para evitar complicações que podem ser fatais.
Qual é o seu tratamento?
O tratamento médico é realizado na fase aguda em regime de internamento, em unidades de cuidados intermédios ou intensivos, para controle da dor e da tensão arterial e vigilância do aparecimento de complicações. Estas definem-se como a dor intratável, a rotura, a hipertensão arterial não controlável e a isquemia de órgãos como o rim, o intestino, a medula ou os membros inferiores.
Quando necessária intervenção, esta pode ser efetuada por cirurgia endovascular ou por cirurgia aberta, dependendo do doente, das características da doença e da experiência do Cirurgião/ Hospital.
Após a fase inicial da dissecção o que é necessário fazer?
O maior risco é a degenerescência aneurismática da área aórtica dissecada, que pode condicionar a necessidade de tratamento. O diâmetro aneurismático da aorta que condiciona a necessidade de realizar tratamento cirúrgico endovascular ou aberto depende do segmento aórtico envolvido.
A dissecção aórtica é uma doença grave com uma mortalidade associada significativa. Deve sempre falar com o seu médico para esclarecer qualquer dúvida que possua.
Os aneurismas são dilatações das artérias, que atingem mais frequentemente a aorta...
Os aneurismas são dilatações das artérias, que atingem mais frequentemente a aorta, mas podem também envolver outras artérias do organismo. Os aneurismas periféricos mais frequentes localizam-se na artéria atrás do joelho (artéria poplítea ou popliteia).
São mais frequentes em homens e em fumadores, existindo frequentemente um aneurisma da aorta em simultâneo.
Habitualmente não existem quaisquer sintomas, apresentando-se como massas pulsáteis nos trajetos arteriais. Podem originar inchaço do membro ou dor do tipo “choque elétrico” quando existe compressão venosa ou nervosa, respetivamente. A complicação mais frequente é a obstrução do fluxo sanguíneo, que pode ser a primeira manifestação, e originar uma perda de irrigação muito grave no membro, com elevada probabilidade de amputação.
O diagnóstico é sugerido pelo exame físico e complementado por eco-Doppler e/ou exames contrastados, como a angio-TC e angiografia.
Quando detetada uma massa pulsátil, mais frequentemente nas pernas, é fundamental a referenciação a um especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular para estabelecimento do diagnóstico e tratamento atempado.
O que são?
Os traumatismos vasculares resultam da lesão de vasos sanguíneos. Menos de 10% dos doentes com politrauma têm traumatismo vascular associado, no entanto, estas lesões podem ser causa de importante morbilidade e mortalidade.
Que mecanismos de trauma existem e qual a sua frequência?
Nos países europeus, os principais mecanismos de trauma são os acidentes de viação (traumatismo fechado) e as lesões iatrogénicas, frequentemente na sequência de cateterismos. O trauma penetrante embora raro, surge na sequência de acidentes causados por armas brancas (ex. facas) e armas de fogo.
Quais são os sintomas?
Os sintomas podem ser muitos variáveis, podendo ir de quadros muito frustes a situações de hematoma pulsátil ou em expansão, hemorragia ativa, choque ou condicionar uma obstrução súbita do vaso, causando uma abrupta falta de irrigação de uma parte do corpo.
Como se diagnostica?
A apresentação clínica de um traumatismo é frequentemente rica e orientadora da sua abordagem.
O cirurgião vascular está habitualmente envolvido desde o primeiro momento na abordagem de um traumatismo vascular: na avaliação clínica e estratificação da gravidade do quadro clínico; na realização de exames auxiliares de diagnóstico logo à cabeceira do doente (ex. Doppler, eco-Doppler); e na orientação de exames auxiliares de diagnóstico mais diferenciados e orientadores da melhor estratégia terapêutica.
É importante salientar que as lesões vasculares podem não estar presentes numa fase inicial após o trauma, surgindo tardiamente, o que pode variar de dias até vários anos depois do evento causador.
Qual é o seu tratamento?
Dependendo da gravidade do traumatismo vascular, pode ser necessária uma cirurgia emergente. Noutros casos, é possível adiar ou evitar uma operação, mantendo uma adequada vigilância clínica.
No caso de ser necessário intervenção, o cirurgião vascular irá orientar o tratamento, personalizado a cada quadro clínico, com recurso a cirurgia aberta e/ou técnicas endovasculares. Adicionalmente, irá esclarecer o doente e/ou familiares da gravidade do quadro clínico, riscos/ benefícios da intervenção e potenciais sequelas.
O Aneurisma da Aorta é uma doença que se define por uma dilatação permanente da aorta, a maior artéria do organismo humano.
O acesso vascular para hemodiálise é criado cirurgicamente por um Cirurgião Vascular. Permitir extrair, com segurança, o sangue do organismo do doente (através do uso de agulhas e tubos) de modo a que este possa passar por um dialisador (máquina que filtra o sangue) e, de seguida, a reentrada do sangue no organismo.
Existem três tipos de acessos vasculares para hemodiálise:
– A Fístula arteriovenosa (FAV) consiste na ligação de uma artéria a uma veia, geralmente no braço. É o acesso mais seguro e duradouro;
– A Prótese arteriovenosa (PAV) consiste na colocação por baixo da pele de uma prótese vascular sintética que vai ligar uma artéria a uma veia. É uma opção quando o doente não tem condições para construir uma FAV;
– O Cateter Venoso Central (CVC) surge como uma opção quando as 2 anteriores já foram esgotadas ou quando há urgência no início do tratamento. Dado o elevado risco de infeção, deve ser utilizado de modo temporário.
É importante que o doente e/ou seus cuidadores conheçam o acesso vascular e tenham alguns cuidados: manter os locais de acesso limpos e livres de traumas; identificar diariamente o frémito da FAV ou PAV funcionante (tremor causado pela passagem do sangue); e alertar para sinais que possam indiciar alguma complicação, como a presença de dor, inchaço, rubor ou febre. O Profissional de Saúde avalia clinicamente o acesso vascular para hemodiálise, a cada sessão de tratamento.
Sempre que necessário o doente é referenciado para uma Consulta Multidisciplinar de Acessos Vasculares para Hemodiálise: aqui é efetuada a avaliação clínica e por Eco-Doppler do acesso, que permite avaliar o débito do acesso e identificar alterações no mesmo. Se necessário o Cirurgião Vascular irá efetuar intervenções no acesso, com vista a mantê-lo funcionante a longo prazo.
Importa relembrar que o sucesso da hemodiálise está dependente da existência de um acesso vascular adequado. O seu mau funcionamento pode impossibilitar a sua realização, colocando em risco a vida do doente.
Rui Machado, Assistente Hospitalar Graduado Sénior de Angiologia e Cirurgia Vascular Centro Hospitalar Universitário do Porto – Hospital de Santo António. Professor Catedrático Convidado do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto. Vice-Presidente da SPACV.
Clara Nogueira, Assistente Hospitalar Graduada de Angiologia e Cirurgia Vascular do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/ Espinho. Assistente Convidada da Unidade de Ciências cardiovasculares da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Secretária-Geral da SPACV.
Ana Gonçalves, Assistente Hospitalar Graduada de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital Garcia da Orta. Tesoureira da SPACV.
Rita Ferreira, Assistente Hospitalar de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital de Santa Marta – Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central. Vogal da Direção da SPACV.
Roger Rodrigues, Assistente Hospitalar de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital de Braga. Vogal da Direção da SPACV.
Mariana Moutinho, Assistente Hospitalar de Angiologia e Cirurgia Vascular do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte. Vogal da Direção da SPACV.
Alexandra Canedo, Assistente Hospitalar Graduada Sénior e Diretora de Serviço de Angiologia e Cirurgia Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/ Espinho. Assistente Convidada da Unidade de Ciências cardiovasculares da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Presidente da Assembleia Geral da SPACV.
Gabriel Anacleto, Assistente Hospitalar Graduado de Angiologia e Cirurgia Vascular do Centro Hospitalar Universitário do Coimbra. Presidente do Conselho Fiscal da SPACV.
Frederico Bastos Gonçalves, Assistente Hospitalar Graduado de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital de Santa Marta – Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central. Professor Auxiliar Convidado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. Editor Chefe da Revista da SPACV.
O índice tornozelo - braço, habitualmente designado por ITB ou ABI, é um procedimento extraordinariamente útil no rastreio de doença vascular arterial...
O índice tornozelo – braço é um indicador preciso da saúde ou de doença arterial obstrutiva das artérias de todo o organismo. Consiste na medida da pressão arterial sistólica (conhecida como pressão arterial “máxima”) nos tornozelos e nos braços, medida com um aparelho Doppler e na elaboração do quociente entre as duas medidas obtidas.
A sua determinação é indolor e simples, requerendo apenas um vestuário que permita cobrir o braço e o tornozelo com a manga de pressão, uns minutos de repouso prévio e a sua execução demora apenas alguns minutos. É necessária uma marquesa para deitar o utente, um aparelho de medição manual da tensão arterial e um pequeno aparelho de Doppler portátil.
Os resultados são obtidos imediatamente e podem ser discutidos entre o médico ou técnico que executou o exame e o utente. Na presença de alterações, é possível que o seu médico lhe prescreva outros exames (por exemplo, o eco-Doppler) e o oriente para uma avaliação por um especialista de Angiologia e Cirurgia Vascular.
O Eco-Doppler é o exame de primeira linha para confirmação de diagnóstico em Cirurgia Vascular e pode ser utilizado para estudo das artérias e das veias. É atualmente o exame de excelência para a avaliação das varizes e das tromboses venosas. Acrescenta ainda informação indispensável no diagnóstico e seguimento de doentes com obstrução ou dilatação das artérias. É o meio de eleição para o rasteio do aneurisma da aorta abdominal, em grupos de risco selecionados. É utilizado muito frequentemente também no estudo da circulação carotídea.
É um exame não invasivo, sem quaisquer riscos para o doente, que pode ser repetido sempre que clinicamente indicado. O estudo abdominal requer 6 horas de jejum. Os restantes não carecem de preparação prévia.
Como desvantagens, importa referir que a qualidade do exame depende muito de um operador experiente, de um bom aparelho e exige que a superfície da pele do local a avaliar esteja sem lesões ou feridas. Também é de difícil execução e interpretação nos doentes muito obesos.
Para visualizar as estruturas vasculares é necessário injetar, numa veia periférica (habitualmente no braço) um produto de contraste que contém iodo, obtendo-se uma angio-TC.
A injeção deste produto provoca habitualmente uma sensação de calor e existem mesmo algumas pessoas que são alérgicas ao contraste– se existir uma história importante de alergias a outros produtos ou ao contraste poderá ser efectuada uma dessensibilização prévia.
Este contraste também tem algum efeito negativo na função renal, pelo que terá que se ter algum cuidado em doentes idosos, desidratados ou com alteração prévia da função renal. Este efeito pode ser minorado através de adequada hidratação antes e após o exame.
Estas considerações não contrariam o facto de ser um exame menos invasivo que a arteriografia (“cateterismo”), seguro e que fornece imagens de grande qualidade e detalhe. É ainda um exame rápido de efetuar, e que não provoca a sensação de claustrofobia da ressonância magnética. Apenas necessita de estar deitada imóvel durante alguns minutos.
A angio-TC geralmente não se usa para o diagnóstico de uma doença vascular (habitualmente isso é feito pelo exame físico e eco-Doppler), mas sim para planificar uma intervenção cirúrgica ou endovascular. Também pode ser usada para o seguimento de doentes a quem foi implantada uma endoprótese ou acompanhar a evolução de uma doença da aorta torácica.
As imagens da RM são de grande detalhe morfológico e funcional, mas requerem substancialmente mais tempo para serem adquiridas, exigindo ao examinado estar deitado, imóvel, durante todo o exame. Os aparelhos de RM são parcialmente fechados e podem constituir um problema para pessoas com claustrofobia, se bem que nos aparelhos mais novos este problema tende a ser minorado.
A sua utilização pode estar contra-indicada ou limitada em indivíduos que com próteses metálicas implantadas ou pace-makers. Ainda assim, a maioria dos materiais implantados são compatíveis com a realização deste exame. Se tiver algum tipo de implante, como uma prótese de anca ou joelho, um pace-maker ou um stent vascular, e lhe for prescrita uma RM, é muito importante que forneça a identificação e número de série do implante para que o técnico e o médico possam saber se o exame pode ser realizado e quais as restrições de que padece.
Ao contrário da TC, a RM não envolve radiação ionizante e, à parte do contraste, não é um exame invasivo ou com riscos para o examinado. Não oferece assim qualquer risco de exposição a radiação, o que a torna ideal na criança e no estudo das malformações vasculares, e pode ser repetida se necessário.
O que é?
A angiografia é um exame de diagnóstico que se realiza para visualizar o estado (anatomia) dos vasos sanguíneos. Quando é realizado para estudar as artérias chama-se arteriografia e quando é realizado para estudar as veias chama-se flebografia.
Como se realiza?
Normalmente punciona-se um vaso sanguíneo (artéria ou veia), sob anestesia local, para ter acesso ao sistema circulatório. As regiões onde se realiza mais frequentemente a punção é a região inguinal, o punho ou o braço. Através dessa picada (punção) faz–se progredir um cateter até à região ou órgão que se quer estudar e aí administra-se o produto de contraste, que é opaco ao raio X. A obtenção simultânea de imagens raio X permite caracterizar, de forma detalhada, a anatomia dos vasos sanguíneos dessa área ou órgão. Esta anatomia poderá ser normal ou mostrar a doença que se procura (obstrução, dilatação, compressão, rotura,…)
Quando se realiza?
Este exame pode ser realizado isoladamente para diagnosticar uma doença da circulação sanguínea. Habitualmente, o utente já tem um diagnóstico efetuado por outro método de imagem (eco-Doppler, TC, RM) e é submetido a uma angiografia para confirmar o diagnóstico e, eventualmente, realizar de seguida o seu tratamento. A angiografia permite, no mesmo gesto, tratar as lesões visualizadas, por exemplo, com angioplastia ou recurso a stent. Pode também ser realizada no final de um procedimento cirúrgico, para avaliar o resultado terapêutico.
É um exame invasivo?
Sim, é considerado um exame invasivo porque implica a picada de um vaso sanguíneo, a administração intravascular de um medicamento e a exposição a radiação. Contudo apesar de ser considerado um exame invasivo, é um exame de realização muito frequente.
É necessário internamento?
Normalmente é um exame realizado em regime ambulatório, sem internamento. Em situações excecionais pode ser necessário internamento, quando realizado sob anestesia geral, em doentes com risco clinico elevado ou quando é feito pré operatoriamente ou como complemento a uma cirurgia.
Quais os riscos mais comuns que podem ocorrer?
Deve sempre falar com o seu médico sob os riscos e benefícios deste exame e esclarecer qualquer dúvida que possua.
CAMPANHAS DE SENSIBILIZAÇÃO
E PROMOÇÃO DA SAÚDE
Um dos objetivos da SPACV é a sensibilização e educação da população para a saúde vascular.
Neste sentido, a SPACV realiza campanhas de sensibilização e rastreio, contribuindo assim ativamente para a literacia em saúde e promovendo a consciencialização da importância da patologia vascular na saúde pública.